sábado, 12 de setembro de 2009

Colômbia – impressões




Assim que cheguei na Colômbia, me senti muito em casa. As cores, as danças típicas, os rostos, os tempeiros, a alegria, a sociabilidade. Uma mistura de nordeste e amazônia brasileiras, que me fazia sentir muito bem.
É um país barato para turistas, mas caro para os colombianos. Viver é barato, mas por outro lado se ganha muito pouco. Eu lembro de algum venezuelano me contando que há muitos colombianos na Venezuela, porque aí se pode poupar algo. Na Colômbia só se ganha para viver, e não muito bem. Provei isso na pele. E agora vejo que o Equador também atrai muitos colombianos.
O transporte público também é feito em carros particulares. Me faziam lembrar caminhões de circo. Adesivos e luses coloridas por todas as partes, cortinas, bancos vermelhos imitando couro, toda sorte de penduricalhos nos painéis.
Os colombianos têm o mesmo vício das telenovelas. São incrivelmente amáveis e receptivos. Quando cheguei a Cartagena, ia de casa ao mercado, cinco quadras, e escutava me chamarem de “mona” várias vezes. Eu me preguntaba porque me ofendiam, não entendia nada, afinal “mono” é macaco. Semana depois, no trabalho descobri que “mona” é loira. Outra coisa que me impressionou foram os fio-dentais, que se chamam brasileira, simbolizando o pensamento que têm sobre nosso país. Agradeçamos à Globo!
Dos narcotraficantes, todos sabem. Respeitam, ninguém se mete. Na região de Turbo estava claro. Nos apresentávamos em lugares onde almoçavam os “duros”, como eles dizem aos homens que têm algum poder. Tinham choferes, “acompanhantes”, e sempre davam boas contribuições.
As drogas são absurdamente baratas. Os caminhoneiros que me levavam às vezes diziam: “Atrás desse monte há uma plantação de Marijuana”.
A guerrilla já não é mais nada que assusta. Há três ou quatro anos, contam os caminhoneiros, fechavam as estradas das 18h às 6h, e quem se atrevesse a passar tinha o veículo queimado. Circulando pelas estradas, viam os acampamentos.
Eu cruzei a Colômbia de carona, sozinha, por dois dias viajei à noite, uma delas na região do vale do Cauca, onde todos os caminhoneiros estavam de acordo que ainda há guerrilheiros, e tudo bem. Outro assunto sobre o qual a grande maioria estava de acordo era sobre a diminuição da força das FARC no governo de Uribe. Por motivos pessoais, como acreditam alguns, ou não, é um benefício que admitem.
Por outro lado, enquanto eu estava na Colômbia, Rafael Correa havia expulsado sete bases americanas do Ecuador, e Uribe as admitiu na Colombia. O povo, claro, não gostou. Chavez saiu nos jornais dizendo que Uribe estava traindo a pátria, e os colombianos concordaram. Surgiu um boato de que Correa havia recebido dinheiro das FARC para sua campanha. Ele negava, Chavez entrou na briga. O que sei é que quando saí para o Ecuador, os caminhões enfrentavam filas quilométricas nas fronteiras.
No geral, o povo me pareceu estar descontente com o governo. Tudo é pago na Colombia, inclusive saúde e educação.
No mas, é um país encantador. Cruzei costa, serra, montanhas e vales. Tinha vontade de parar, de estar me locomovendo por meios próprios para poder acampar quando quisesse. Lembro que o ponto fulminante dessa vontade foi num rio de pedras e água muito cristalina chamado Dos Ríos, que formava um vale entre duas montanhas, em algum lugar depois do vale do Cauca.
Rodar nas estradas é, para mim, a própria prática da liberdade: a possibilidade de parar e começar em qualquer lugar, de qualquer maneira, sozinha, sendo quem eu quiser é o sentimento mais prazeroso que eu já experimentei.

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