sexta-feira, 19 de junho de 2009

De Merida a Cartagena


13 de junho de 2009

Merida começou a me dizer sutilmente que eu fosse embora: o movimento caiu drásticamente, o dono da agência, que tinha um restaurante não me chamou mais pra trabalhar lá, como fazia às vezes, e a minha relação com o Pedro estava profundamente afetada pela realidade de que nos separaríamos em breve.
Ele me disse que talvez não fosse comigo, pois acabara de bater o carro (e isso era comum, acontecia toda semana, mas dessa vez havia sido um pouco mais grave: o freio de mão arrebentou, e o carro, que estava estacionado no meio da rua, saiu rodando até bater numa camioneta caríssima). Comecei então a mover os amigos que tinha para que me ajudassem a encontrar uma carona, e, no mesmo dia, um amigo que trabalhava comigo me conseguiu uma carona até Maracaibo, rota para a fronteira, a 6h dali. Era quase perfeito, pelo inconveniente de ser muito rápido: para o dia seguinte. Eu não poderia recusar, pois o dinheiro que tinha era suficiente para chegar a Cartagena e passar três ou quatro dias.
Eu tinha, então, uma noite e uma manhã para avisar todo mundo que eu achava que se importaria. Àquela hora eu já não poderia mais avisar as argentinas, e me restava ligar para o Pedro e explicar tudo, mas ele não atendia. Liguei então pro Ernesto, me despedi, e ficou no ar uma promessa para o México.
Na manhã seguinte, faltou água, e eu simplesmente não podia sair da casa sem água, então acabei também por não me despedir das argentinas. E Pedro desapareceu nesse tempo, não tive como falar com ele.
Assim saí de Merida, depois de o chefe ter me oferecido salário fixo + comissão (oferta irrecusável para muitos venezuelanos) e me despedindo do homem com que vivi por uma carta, em poucas e apressadas linhas. Completamente insegura, com medo e a sensação de que deixei algumas coisas por fazer.
Às 5h da tarde, Pedro me ligou desesperado, dizendo que o que eu fiz tinha lhe desagradado, morrendo de ciúmes do amigo que me dava carona e dizendo que ia tomar o próximo ônibus para Maracaibo.
Em Maracaibo fiquei um dia, pesquisando a maneira mais barata de ir a Cartagena. No dia seguinte, da rodoviária, consegui uma carona até a fronteira. Imposto pago, passaporte selado com visto de turista por três meses, perguntas sobre a gripe suína feitas, segui de moto-táxi até Maicao, primeira cidade da Colômbia a 12km dali. Estava tão cansada com a mochila, tendo viajado por algumas horas no ônibus mais velho e enferrujado que já vi, que nem tive paciência para implorar por uma carona a outro motorista de ônibus, já que o primeiro disse que me levaria se eu "passasse um tempo com ele", em Barranquilhas. A maneira que encontrei de me divertir com isso foi reunir seus amigos que estavam próximos e contar-lhes, simulando-me muito ofendida, a proposta feita.
O Bolívar está extremamente desvalorizado em relação ao Peso Colombiano. O que já foi 1X1 é agora 1x0,33. Assim, o dinheiro que eu teria pra alguns dias se tornou o dinheiro para um dia, mesmo assim pouco.
Chegamos em Barranquillas às 11h da noite, e o motorista queria me embarcar pra Cartagena. Expliquei que eu não teria como procurar lugar pra ficar se eu chegasse à 1h da manhã, e o convenci a me deixar dormir no ônibus.
De manhã, ainda escuro, embarquei para Cartagena, e chegando, entrei em contato com o CS.
Abrindo a caixa de e-mail enquanto o esperava, recebi mensagens de Laura dizendo que está vindo, de Pedro, que não quer vir sozinho, de Ernesto, que está tirando o passaporte pra seguir com os planos, e de Francis com um endereço para encontrá-lo aqui. O que vai se tornar realidade disso tudo é muito pouco.
Conheci Francis nas férias de verão em Florianópolis. Me lembro perfeitamente dele me pedindo "jugo de naranja", com aquele sotaque que deixa todas as palavras oxítonas e sem conseguir pronunciar o "r" entre vogais. Olhava, sorria em francês. É um rosto que conheço há mais de alguns meses, e isso é um pouco reconfortante.

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