quarta-feira, 22 de abril de 2009

De Londrina a Porto Velho




18 de abril de 2009

Saímos de Londrina ontem, por volta das 21:30h, eu minha guia e a mochila, com destino a Campo Mourão, onde o caminhoneiro carregou hoje, da manhã até a hora do almoço. Farinha, num bitrem.
Tenho um lugar mais ou menos certo pra ficar em Porto Velho (talvez "Couch Surfing" salve essa viagem!) De qualquer modo, quero manter a consciência de que posso desistir e voltar a qualquer momento. Isso também torna tudo mais confortável.
De Campo Mourão fomos até Rio Brilhante, depois de Dourados. Nas terras do MS, cana, pasto e milho. As cidades são planas, as ruas largas. Não chove há meses, o gado magro dá pena. Acabamos de passar pelo meio de um grande incêndio.
Há muitos sem-terra acampados na beira da estrada.

19 de abril de 2009

Hoje, de Rio Brilhante a Campo Grande, Bandeirantes, São Gabriel d'Oeste, Coxim. A estrada está rodável, com a excessão de poucos trechos. Vamos até Rondonópolis, mas preciso escrever antes que o sol se ponha.
O que mais impressiona é o número de animais mortos na estrada. Capivaras, tatus, tamanduás, cachorros-do-mato. Na estrada mais ao sul, havia o "passa animais". Aqui não há.
A paisagem é plana, e as palmeiras começam a aparecer com mais freqüência.
Hoje almocei garapa e pamonha, numa técnica avançada de comer com uma mão e espantar as moscas com a outra. O povoado chama-se Congonhas.

20 de abril de 2009

Ontem cruzamos o rio Correntes já à noite. Depois de jantar em Rondonópolis, paramos a 150km de Cuiabá, com a intenção de passar lá cedo, antes que os sem-terra impedissem a pista.
Logo de manhã, quatro araras coloridas de azul e vermelho cruzaram o pára-brisa, além de vários outros pássaros. Os animais mortos aumentaram, e nas planícies alagadas há, entre eles, alguns jacarés.
Cruzamos o rio Paraguai. Ele alaga uma grande área, sendo que para atravessá-lo há uma ponte principal e nove outras vasões.
Almoçamos num sítio/restaurante, e comi salada de feijão pela primeira vez. Mas adiante paramos numa barraca que vendia melancia gelada, pra comer na hora.
As cidades vão rareando. Acho que viajamos uns 200km sem ver nada além de pequenas vilas.
A estrada antes de Cuiabá e em alguns outros trechos mais perto da divisa está muito esburacada. Colocaram mato nos buracos, para avisar os motoristas, e alguns deles se enraizaram. Já são grandes arbustos.
Em alguns momentos passamos a 70 km da fronteira com a Bolívia, trecho em que há muitos assaltos à noite. Vê-se de longe a maior jazida de diamantes do Brasil. Dá pra perceber, ao longo da viagem, a transição do Pantanal pra Floresta Amazônica.
À noite, a 100km de Comodoro, última cidade do MT, passamos correndo por um buraco profundo, que atravessava a pista. O estrondo foi tão alto que achamos que o pneu tinha estourado. Os buracos continuavam e começávamos a subir uma serra quando ouvi uns galhos se quebrando no meio do mato. O motorista me perguntou se a porta estava travada, eu disse que não, ele mandou travar. O caminhão não passava de 20 km nas subidas mais íngremes. Até então eu conseguia me concentrar no pensamento de que o motorista fazia este trajeto há 20 anos e nunca acontecera nada, quando, pelo rádio, alguém que estava 2 km a frente avisou: "Se tiver motoqueiro caído na pista, passa por cima!". O pouco que conheço disso tudo me faz crer que quando alguém dá esse tipo de aviso, o perigo é real. Nessa hora o motorista aproximou-se do volante e quase não piscava. O silêncio não era o de costume: era tenso. Eu, vendo o motorista experiente amedrontado, agarrei a minha guia e fixei também o olhar na pista, pensando que, se visse algo, poderia avisar.
Chegando no posto de gasolina, ainda me vi pálida no espelho. Depois de um banho quente, precisava de um chocolate!

22 de abril de 2009

Atravessamos a Rondônia ontem, de Vilhena até Porto Velho pela rodovia tri-nomeada: Rodovia Marechal Rondon, BR 174 e BR 364. A maior cidade antes de Porto Velho é Ji-Paraná. Passamos pelo rio Jamari que, muito volumoso, sustenta sobre si uma vila de palafitas na beira da estrada.
As terras, diferentes do MT que se dividiam em pastos e milho, têm culturas muito diversificadas. Além dos pastos a peder de vista, há pequenas plantações de milho, soja, arroz, cana, mandioca, cacau, café, eucalipto, teca (também para extração de madeira), banana, laranja e até urucum.
Os últimos 70 km de viagem foram a soma de tudo o que eu mais temia: noite, buracos, chuva (e chuva equatorial não é qualquer chuva) e, portanto, pista alagada. Também não tinha acostamento. Para "fechar com chave de ouro", eu estava extremamente enjoada e tentava me concentrar na minha respiração, olhando fixamente a pista para não vomitar. Quando as minhas mãos começaram a gelar e senti a pressão caindo, pensei que ia desmaiar. Me concentrei na respiração mais e mais. Passar mal é psicológico!
Pela última vez dormi entre o câmbio e o banco. Depois de me encontrar com o CS e guardar a mochila, fui descobrir a cidade. Os portos me parecem serem todos iguais: um amontoado de pessoas vendendo roupa, comida, acessórios. Muito sujo.
Fui conhecer a faculdade, e, por ironia, o bloco de Sociais é o mais caro: todo de vidros escuros espelhados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário